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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sulfetos Maçicos Marinhos - Uma Nova Corrida do Ouro

Nas décadas de 60 e 70 do século passado surgiu um grande interesse na explotação dos nódulos polimetálicos (nódulos de manganês) que ocorrem principalmente nas planícies abissais oceânicas. No final da década de 70, com a descoberta das primeiras fumorolas ("hydrothermal vents") associadas aos riftes das cadeias meso-oceânicas e as acumulações de sulfetos maciços associadas, uma verdadeira revolução aconteceu,  não só no campo da geologia, como também da biologia marinha com a descoberta deste novo tipo de ecossistema, com grande proliferação de vida que independe completamente da luz solar e floresce em condições ambientais extremamente adversas de pressão, química da água e temperatura.

Alguns dos organimos que vivem associados às fumarolas.  Foto:  Stephen Low Productions. 
Os depósitos de sulfetos maciços associados a estas fumarolas se formam como resultado de reações químicas associadas ao processo de lixiviação das rochas da cadeia meso-oceânica por água do mar aquecida. Os fluidos gerados, que podem alcançar temperaturas de até 400 graus centígrados, ao emergirem no fundo do mar, encontram água fria que causa a precipitação dos sulfetos metálicos próximo ou sobre a superfície do fundo marinho (ver abaixo).

Esquema de formação dos depósitos de sulfetos maçicos. Fonte: Wikipedia

Depósitos de sulfetos maçicos. Foto: Maurice Tivey e WHOI Deep Submergence Lab

Depósitos de sulfetos maçicos. Foto: Daniel Desbruyères. French ROV Victor 6000 sampling black smokers.
Na realidade muitos dos depósitos de sulfetos maciços explorados em terra tiveram uma origem parecida. É o caso dos depósitos de sulfeto do ofiolito de Troodos, na ilha de Chipre, um fragmento da crosta oceânica,  considerado o mais completo e preservado em todo mundo. Esta ocorrência inclui até fósseis de comunidades associadas às fumarolas do Cretáceo superior.  A evolução política, cultural, social e histórica da ilha de Chipre está intimamente associada à explotação do cobre, desde os tempos do império romano. A palavra cobre, do latim Cuprum, deriva de cuprium,  que significa Cipriota. 

Ilha de Chipre

Mina de Skouriotissa - Ilha de Chipe (Fonte: Google Earth).
Retornando ao fundo do mar: os depósitos de sulfetos maçicos marinhos podem alcançar elevadas concentrações de cobre, ouro, prata, zinco, chumbo e ferro, daí o interesse despertado. Existem 03 companhias (Nautilus Minerals, Neptune Minerals e Bluewater Metals Pty) que possuem licenças de exploração em áreas da Zona Econômica Exclusiva (ver este post). A empresa que mais avançou neste sentido foi a Nautilus (já tem até Estudo de Impacto pronto - para acessar use este link)
A Nautilus  Minerals tem atuado no Mar de Bismarck (em frente à Nova Guiné) e anunciou no inicio de deste mês novas descobertas na região (link). O Mar de Bismarck (uma bacia de back-arc) é particularmente atraente porque as ocorrências estão a menos de 2000m de profundidade e dentro da ZEE da Nova Guiné. Desta foram evitam-se os problemas da exploração em águas sob jurisdição internacional. Estima-se que 1 metro cúbido destes sulfetos na região deve valer em torno de US$2.000,00.

Localização dos prospectos da Nautilus Minerals (Fonte: Nautilus Minerais)

Seção esquemática de Solwara 1, um dos depósitos pesquisados pela Nautilus minerais (para localização veja mapa acima) (Fonte: Nautilus Minerais)


A viabilização da explotação destes sulfetos só se tornou possível devido ao estágio tecnológico atual das indústrias de óleo e gás em águas profundas e da indústria de dragagem em conseqüência do desenvolvimento de grandes projetos como aqueles em Dubai. 

Esquema mostrando como será a explotação, no fundo do mar, dos sulfetos maçicos. Fonte: Nautilus Minerals
Assistam a animação abaixo de como será o processo de explotação e vejam como as coisas já estão adiantadas.

Considerando que a crosta oceânica foi gerada ao longo da cadeia meso-oceânica e submetida portanto a processos semelhantes aos descritos acima, alguns bilhões de toneladas de sulfetos estariam presentes nas bacias oceânicas. O esgotamento das jazidas mais facilmente explotáveis no continente, associado ao aumento das restrições ambientais, vai tornar cada vez mais atraente a explotação submarina, que pode até mesmo se tornar mais barata, pois muito da infra-estrutura necessária em área emersas  (p. ex. estradas) é dispensável em áreas submersas.


Li em algum lugar outro dia que as profissões necessárias daqui a 10 anos ainda nem começaram a ser ensinadas nas Universidades hoje.  É o caso das equipes de profissionais que vão tocar projetos como estes, não só no que diz respeito às atividades de exploração e explotação, mas também todas as atividades relacionadas aos aspectos ambientais, legais e de remediação. 


Além disso será que em breve não será necessária a criação de unidades de conservação em algumas destas áreas (p.ex. parques marinhos) para proteger as comunidades das fumarolas? O fato é que o que antes parecia improvável, agora já é quase uma certeza. Começou uma nova corrida do ouro, desta vez no fundo dos oceanos.

4 comentários:

  1. Gostaria de sua permissão para reproduzir este post no portal Geofísica Brasil.

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  2. Se possível forneça escala para as imagens. Gostaria de saber/conhecer a dimensão das feições e das áreas fotografadas.
    (excepto para a 1ª imagem [que ilustra a biodiversidade], é claro....)

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  3. Ops......
    Mais precisamente - forneça a escala para a imagem sobre *Depósitos de sulfetos maçicos. Foto: Maurice Tivey e WHOI Deep Submergence Lab*

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  4. Seria possível dispensar a imagem: Depósitos de sulfetos maçicos. Foto: Daniel Desbruyères. French ROV Victor 6000 sampling black smokers para fins cientificos?

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