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sábado, 12 de março de 2011

Expedição Científica do NOc Peroá I na Reentrância do Joanes

Mais uma vez uma vez um grupo de testemidos oceanográfos embarcaram no NOc Peroá I para investigar a Reentrância do Joanes (Figura abaixo). Em todo o litoral norte do Estado este é o local que apresenta a maior acumulação de sedimentos lamosos na plataforma continental. A reentrância forma uma espécie de anfiteatro que aprisiona sedimentos finos e que passa no sentido do talude para um sistema de vales-cânions submarinos. Em breve quando finalizarmos o tratamento dos dados coletados teremos mais a informar.
 A Reentrância do Joanes
Como aconteceu em outras ocasiões a equipe permaneceu embarcada durante quase uma semana, realizando batimetria e coletando amostras de sedimento e bentos. Desta vez o NOc Peroá I foi modificado, com a instalação de um camarote para os pesquisadores. Uma melhoria na alimentação diária foi possivel com a liberação da caça a bordo. Brincadeiras à parte o pessoal está de parabéns limitações do trabalho oceanográfico no Estado da Bahia, o Estado com a mais extensa linha de costa do Brasil, não é mesmo??

 NOc Peroá I - Veja o clip do YouTube abaixo


Equipe Científica - Gustavo, Alina, Adriana e Luiza
Camarote da Equipe Científica

A caça foi liberada a bordo
Restaurante
Refeição típica - Dourado com arroz e jacuba
O trabalho continua à noite
Hora do Banho
"Deep Blue"
"Deep Blue"
"Deep Blue"

Para encerrar o "Balanço das Ondas" (performance de Luiza Lopes)



segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Elevação do Rio Grande

A Elevação do Rio Grande é uma feição positiva do Atlantico Sul,  que alcança profundidades mais rasas que 1.000m e é circundada por assoalho oceânico com profundidades médias de 4.000m.  A Elevação do Rio Grande está além dos limites da plataforma continental jurídica brasileira, ou seja está em águas internacionais, uma região conhecida como "A Área".  

 A Elevação do Rio Grande (ERG).  Observe que o rifte no topo da elevação apresenta uma continuidade com o lineamento Cruzeiro do Sul, que alcança o continente na altura de Cabo Frio e separa as bacias de Campos e Santos.

A origem da Elevação do Rio Grande ainda é cercada de controvérsias. Mohriak et al (2010) elencam as seguintes hipóteses para a origem desta feição: (i) um edifício vulcânico ou plateau enraizado no manto, (ii) uma zona de cisalhamento intraplaca afetando as crostas continental e oceânica, (iii) uma área oceânica com uma atividade ígnea anormal causada por um ponto quente ou uma anomalia térmica no manto, (iv) um paleo-centro de expansão do assoalho oceânico formado durante o Cretáceo, (v)  uma área de excessiva atividade vulcânica resultante de uma diferenciação do manto devido a descompressão adiabática, e (vi) um remanescente isolado de crosta continental, deixado para trás durante  o processo de separação América do Sul-Africa. Muitas possibilidades portanto,  o que mostra que ainda existe muito a fazer.

Interessante notar que a porção central da ERG apresenta um rifte em seu topo orientado SE-NW, que apresenta uma continuidade com o lineamento Cruzeiro do Sul (veja acima)

Um rifte ocupa a porção central da ERG (Fonte: Mohriak et al (2010).

Linha sísmica da Universidade do Texas, cortando o rifte presente no topo da ERG (Fonte: Mohriak et al 2010)

Mais de 30 anos atrás o Deep Sea Drilling Project realizou uma perfuração no local,  que atravessou 1250m de carbonatos (Oligoceno-Eoceno) e 21m de basaltos (82-96 ma).

Linha sísmica e perfuração realizada pelo DSDP (Fonte: Mohriak et al 2010)

O interesse nesta feição foi renovado após a descoberta do pré-sal. Segundo as autoridades brasileiras, em função deste fato novo,  esta área passa agora a ter importância estratégica para o país, visto que não seria nada agradável ter potências estrangeiras, como Rússia, EUA e China, atuando nesta região,   seja por interesses acadêmicos, seja por interesses comerciais (minerais marinhos - crostas cobaltíferas). Isto poderia representar uma ameaça potencial para o controle do pré-sal.

Em função disto foram criados alguns programas para marcar a presença do Brasil no Atlântico Sul.  É o caso do Proerg (Geologia Marinha da Potencialidade Mineral da Elevação do Rio Grande) tocado pela CPRM com o auxílio da Marinha do Brasil, que objetiva o estudo das crostas cobaltíferas nesta região.  Estas crostas se formam muito lentamente (1-6mm/milhão de anos), a partir da precipitação de óxidos de ferro e manganês, sendo particularmente enriquecidas em cobalto e platina. Teores de cobalto a partir de 1% em crostas com uma espessura mínima de 5 cm e com uma certa continuidade lateral já são consideradas como potencialmente econômicas. Como parte deste projeto, foi realizada em 2009,  campanhas para levantamento multifeixe de uma trecho da ERG, pelo NOc Sirius da Diretoria de Hidrografia e Navegação.

Batimetria Multifeixe de um trecho da ERG, mostrando o rifte central (Fonte: DHN)

Estas preocupações, dentre outras motivações,  também estão por trás da idéia da criação de uma plataforma oceânica de observação como tem sido amplamente divulgado nos meios de comunicação e nas salas de imprensa do CNPq e MCT (veja esta notícia recente no "O Globo").

Alguns podem até pensar ser um exagero, mas por pura coincidência acabei cruzando este semana com uma referência de um artigo de cientistas russos (veja abaixo) relatando os resultados de um cruzeiro realizado em 2008, pelo navio R/V Akademik Vavilov, na cadeia de montes submarinos Vitória-Trindade, que se prolonga até o Banco de Abrolhos (veja a primeira figura desta postagem para localização).



Referências: 

Barker, P.F., Carlson, R.L. et al. 1981. Deep Sea Drilling Project - Leg 72 - Southwest Atlantic: Palaeocirculation and Rio Grande Rise tectonics. Geological Society of America Bulletin, 92, 294-309. 

Barker, P.F., Buffler, R.T., Gamboa, L.P. 1983. A Seismic Reflection Study of the Rio Grande Rise. In: Barker, P.F., Carlson, R.L., Johnson, D.A. et al. ( eds ) Initial Reports of the Deep Sea Drilling Project, Washington, (US Govt Printing Office ), 72, 499-517.

Mohriak et al (2010). Geological and geophysical interpretation of the Rio Grande Rise, south-eastern Brazilian margin: extensional tectonics and rifting of continental and oceanic crusts . Petroleum Geoscience, Vol. 16, pp. 231-245

domingo, 30 de janeiro de 2011

A Barra do Rio Jequitinhonha Fechou

O rio Jequitinhonha localizado na região sul do Estado da Bahia, construiu um expressivo delta dominado por ondas associado à sua embocadura. Até a década de 60/70 o rio desaguava no mar através de uma única desembocadura. A partir da decada de oitenta do seculo passado a acumulação de areia na foz originou uma ilha que forçou a bifurcação do canal, de modo que o rio passou a ter duas desembocaduras. Em  dezembro passado o jornal "A Tarde" publicou uma pequena notícia com o título de "Foz do Jequitinhonha em Belmonte sofre processo de desertificação e prejudica pescadores" relatando que a barra sul havia fechado, prejudicando a saída dos pescadores locais para o mar.

Faz algum tempo que venho observando a evolução da foz do rio Jequitinhonha, principalmente no Google Earth e com os dados que disponho da minha dissertação de mestrado (1983). Abaixo algumas fotos ilustrando a evolução da foz do rio Jequitinhonha.

 Desembocadura do rio Jequitinhonha em 1960 (esquerda) e 2005 (direita). A linha vermelha é  a linha de costa de 1960. 

Observem as mudanças dramáticas no canal do rio, na foz e a norte da foz. A mudança do canal foi artificial. Na decada de 70 ou 80 a prefeitura de Belmonte, cortou artificialmente o canal atual, pois a cidade estava ameaçada pela erosão. Pelo visto funcionou. Talvez esta mudança no curso do rio tenha resultado no aparecimento da ilha na desembocadura, causando a bifurcação do canal. Acontece que deltas dominados por ondas, principalmente em regiões de elevada energia como a nossa, não apresentam distributários, pois é muito dificil o rio fazer frente ao mar, divivindo suas "forças".  O esperado portanto era que em algum momento uma das duas desembocaduras fechasse. Observem que em 2005, a barra sul já estava muito assoreada. O transporte de sedimento agora está direcionado para norte, onde  a linha de costa avançou até 1 km mar adentro.  O trecho a sul está experimentando um processo acelerado de erosão, que deve possivelmente se estender por vários anos.

 Desembocadura do rio Jequitinhonha em dezembro de 2010. A linha vermelha é  a linha de costa de 1960. 
Observem que a barra sul está fechada.

 Barra sul do rio Jequitinhonha fechada. Visada para norte. Compare com a foto anterior de dezembro de 2010.

Em ciências históricas como a geologia, o tempo é um componente muito importante. A passagem do tempo nos permite testemunhar as mudanças, como neste caso e adquirir "insights" que de outro modo seriam quase impossíveis.



sábado, 16 de outubro de 2010

Narrativa de Uma Viagem ao Brasil

Thomas Lindley, comerciante inglês, foi preso na Bahia, acusado de contrabando, no início do século XIX. Quando retornou a Londres, publicou seu  diário relatando sua estadia na Bahia, no periodo 1802-1803.  O livro publicado em 1805 pode ser adquirido em edição fac-simile na amazon.com. O pdf está disponível para "download" no Google Books. A versão em portugues que eu conheço, foi publicada em 1969 pela Companhia Editora Nacional e só pode ser encontrada em sebos, a um preço elevado.

Frontispício do Diário de Thomas Lindley, publicado em 1805

Lindley relata o seu dia a dia e o da cidade do Salvador, durante o periodo que esteve preso na Bahia. Várias passagens do livro nos ajudam a entender que em 200 anos não mudou muita coisa nesta parte do mundo, principalmente do que diz respeito à excessiva burocracia que nos confronta no dia a dia.

Fotografia de Salvador em 1870 de Guilherme Gaensly

Lindley esteve inicialmente preso, juntamente com sua esposa, no Forte do Mar, que considerava insalubre. Por esta razão peticionou ao governador para ser transferido para Lisboa. Na entrada de 19 de novembro de 1802 do seu diário Lindley escreveu:

"Recebi uma visita formal do intérprete, em resposta à minha última carta ao governador. Informou-me que deveríamos, em vez de ser mandados para Lisboa, continuar inevitalmente aqui até chegar uma resposta aos primeiros despachos para lá remetidos. Mas que, a título de minorar nossa condição, Sua Excelência pretendia conceder-nos a liberdade de movimentos, dentro dos limites da cidade. Para que eu conseguisse tal mercê, acrescentou o intérprete que ele (o governador) aconselhava-me fingir que estava doente, obtendo para esse fim, atestados de um médico e de um cirurgião, prontos a declarar que minha vida correria perido se eu permanecesse enclausurado no forte. Então ele interviria, a fim de que a cidade da Bahia me fosse dada por menagem. Esse conselho, mesquinho e reles subterfúgio por parte do grande e poderoso governador de um lugar, encheu-me de espanto. Pensei, a princípio que tudo fosse  invenção do próprio intérprete; ele porém, referiu-se ao fato de maneira tão firme e aduziu tantas outras circunstâncias, que eu logo pus de lado esta opinião. E após refletir um pouco, aquiesci, decidindo-me a praticar o embuste. Ao manifestar minhas dúvidas a respeito dos médicos, disse-me que tudo seria fácil nesse particular, declarando-me que ele próprio se engarregaria de obter os atestados por quatro mil réis (pouco mais de um guinéu), sem a massada de uma consulta. E partiu com esse própósito"

Na entrada do dia 20 de novembro de 1802,  Lindley escreveu no seu diário:

"Efetivamente, entrou pelo forte o intérprete, com dois documentos dos Srs. João Dias da Costa, cirurgião, e Isidoro José de Lima, médico, ambos ilustres na cidade, que atestaram pelos Santos Evangelistas, "que o Sr. Thomas Lindley estava violentamente atacado de um calor pelo corpo, o qual lhe produzira hemorróidas, além de afetar-lhe de outras maneiras todo o sistema, pondo sua vida em perigo; e que a liberdade de transferir-se para a cidade, a fim de obter os conselhos e o conforto proporcionados pelo lugar, era absolutamente necessário ao caso, para evitar as mais graves conseqüências". Remeti imediatamente esses atestados ao governador, conforme o aconselhado e estou à espera de uma breve resposta". 

Em 03 de dezembro chegou a ordem para remoção de Lindley, o qual junto com sua esposa foram então transferidos para o Forte do Barbalho. Durante o dia Lindley poderia circular livremente pela cidade, mas teria que retornar ao forte durante a noite.

Mapa de Salvador no século XIX de Carlos Weyl (clique para ampliar). Estão indicados os forte do Mar e do Barbalho.

Outro episódio interessante é o do Capitão Smith, comandante de um brique-baleeiro, que naufragou em Boipeba. Na entrada de 19 de fevereiro de 1803,  Lindley escreveu no seu diário:

"Solicitou o mestre que lhe fôssem entregues alguns artigos sem importância, de sua propriedade particular. Antes de obtê-los, viu-se obrigado a justificar sua reinvidicação mediante três testemunhas, e foram redigidas quatro laudas de papel por um advogado, nos autos do processo. Tudo isto depois de registrado na repartição competente, teve de receber cinco assinaturas diferentes, para ter validade, montando as despesas quase tanto quanto o valor das mercadorias".

No dia 05 de agosto de 1803, Lindley e sua esposa fugiram de Salvador em um navio com destino ao Porto em Portugal.

Evidentemente como pode-se perceber, pouco mudou no Brasil em termos de exigências burocráticas, a maior parte delas ineficiente e desnecessária.  A Lei 8666 das licitações, que tanto atrapalha as atividades de pesquisa está aí para comprovar isto.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

TED e Oceanografia


TED - Technology, Entertaining, Design - é uma pequena organização sem fins lucrativos devotada a difundir idéias (Ideas Worth Spreading). O portal da TED disponibiliza videos com duração média de 20min, onde conferencistas de peso, nas mais diversas áreas, apresentam suas idéias. Várias palestras da área de Oceanografia estão disponíveis, a maior parte delas com legendas em portugues. Abaixo estão três exemplos do que é realmente Oceanografia no melhor estilo:

Peter Tyack do  Woods Hole Oceanographic Institution  fala sobre o som no ambiente marinho e mostra como as baleias utilizam o som para se comunicar através de centenas de quilometros nos   oceanos.



 John Delaney da Universidade de Washington mostra como uma rede de câmeras e sensores de alta definição  transformarão o oceano em um laboratório global interativo - gerando uma explosão de dados nunca antes vista.



Barbara Block da Universidade de Stanford fala sobre o comportamento dos atuns e outros peixes  como resultado de suas pesquisas utilizando "tracking devices".

 

Dica: no canto inferior esquerdo, clique em "View Subtitles" e escolha o idioma da legenda

domingo, 3 de outubro de 2010

"Sem a Raça Humana Nosso Planeta se Tornaria um Caos"


A região da Praia do Forte no litoral norte do Estado da Bahia, é conhecida nacionalmente por hospedar, dentre outras coisas, a sede nacional do Projeto Tamar. Esta área foi intensamente ocupada desde o "descobrimento" do Brasil. Devido à sua importância estratégica para a defesa do litoral, a região foi escolhida por Garcia d'Ávila para instalar a sua Casa da Torre. A Casa da Torre é também conhecida como "Castelo da Torre"  devido ao seu estilo arquitetônico, similar ao do periodo medieval em Portugal.

 Localização da Casa da Torre em Praia do Forte - Litoral Norte do Estado da Bahia (aprox. 80 km de Salvador).

Mapa histórico da Baía de Todos os Santos. Observar que este mapa já trás a indicação da Torre de Garcia d'Ávila (seta vermelha).

Ruinas da "Casa da Torre" ou "Castelo da Torre" (fonte: link)

A foto aérea abaixo de 1957, nos dá uma idéia do grau de alteração da região no entorno da Casa da Torre.
Região da Praia do Forte - ano 1957
Grande parte da região foi adquirida por Klaus Peter, que criou a Fundação Garcia d'Ávila em 1981.  A área então pouco a pouco se recuperou naturalmente, com a vegetação de Mata Atlântica retornando, o que resultou na criação da Reserva de Sapiranga, no ano de 1999 (veja foto abaixo).

Região da Praia do Forte - ano de 2002. Comparem com a foto de 1957 e vejam a recuperação notavel experimentada pela área. As fotos estão na mesma escala.

Em 2007, Alan Weisman publicou o livro "The World Without Us", que chama atenção justamente para este aspecto, ou seja, sem a presença do homem, a natureza vai retomar rapidamente aquilo que lhe "pertencia". O livro de Weisman, tornou-se um "best-seller" (link) e deu origem a uma série de televisão.
Um trecho de Nova York sem a presença do Homem (fonte: http://www.worldwithoutus.com/)

Isto já aconteceu várias vezes no passado (vejam o exemplo das ruinas maias). Weisman expandiu esta idéia para várias situações hipotéticas, num experimento mental sobre o que aconteceria com a nossa infra-estrutura tecnológica moderna, se de uma hora para outra o homem desaparecesse da face da terra.
Ruinas Maias - Tikal, Guatemala (fonte:http://www.duplooys.com/mayansites/tikal.php). Os Maias modificaram extensivamente a natureza e construiram grandes metropoles que foram retomadas pela floresta, quando foram abandonadas.

Nossos universitários após assistirem o documentário "O Mundo Sem Ninguem", assim se manifestaram sobre o tema:

"O fato é simples, sem a raça humana nosso planeta se tornaria um caos, casas serviriam de abrigo para animais silvestres, plantas e árvores cobririam todo o território do mundo. A devastação seria total ...."

"Sem a presença humana o mundo se tornaria uma floresta fechada. Após 20 anos sem humanidade podemos perceber o quanto os humanos são necessários para a vida na terra....."

"É aterrorizante sentir essa sensação de que não haveria mais a humanidade o caus iria se instalar nesse ambiente ...."

"O Mundo sofre bastante com a intervenção do homem mas depois de assistir esse vídeo podemos observar o quanto que ele também é importante...

Não são apenas os universitários que tem esta compreensão. Muita gente acredita que o "natural" é o mundo construído em que vivemos.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Geo-Engenharia - Saemangeum


Saemangeum é uma ampla re-entrância na costa oeste da Coréia do Sul com amplas planícies de maré que desempenhavam um importante papel como habitat para aves migratórias (veja imagem abaixo).
Saemangeum - antes da construção do dique - ano 1989. Fonte (http://earthobservatory.nasa.gov/IOTD/view.php?id=7688)

Nesta região teve início no ano de 1991, o maior projeto de "land reclamation" da história. Com a construção de um muro ("seawall") com 33,9 km de extensão que isolou do mar aberto uma área de 400 km2. O muro (dique) foi concluído este ano (2010) ao custo de 2,6 bilhões de dólares (veja fotos abaixo). Cerca de 10 milhões de turistas já visitam o dique anualmente.
 Saemangeum - durante a construção do dique. Ano 2001 (Fonte: http://earthobservatory.nasa.gov/IOTD/view.php?id=7688)

 Saemangeum - durante a construção do dique. Ano 2006 (Fonte: http://earthobservatory.nasa.gov/IOTD/view.php?id=7688)


 Trecho da extremidade sul do dique (Fonte: http://www.korea.net/news.do?mode=detail&guid=46194)

A área isolada pelo dique será progressivamente convertida em terra firme e  deverá se transformar até o ano de 2020 em Ariul - a cidade global dos coreanos, ou como eles mesmos chamam da "melhor cidade do mundo" (custo total do investimento 18 bilhões de dólares). Abaixo um dos muitos "master plans" da futura cidade.
A futura cidade global de Ariul. Para maiores informações use este link

No ano passado um pequeno artigo publicado no EOS - Transactions American Geophysical Union (link), chamava a atenção para o fato que as águas no interior do dique tornaram-se progressivamente mais transparentes ao longo do tempo, assim como ocorreu uma diminuição da variabilidade sazonal na turbidez. Estas mudanças foram atribuidas a uma redução severa na altura da maré e na velocidade das correntes de maré na região. Com a redução da intensidade das correntes de maré diminuiu também a ressuspensão dos sedimentos na coluna d'água, aumentando dramáticamente a transparência da água. A redução tanto na altura da maré quando na velocidade das correntes foi de 80%, após a conclusão dos diques. O estudo utilizou dados do MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) da NASA.

Figura extraida do trabalho de S. Son and M. Wang (e–h) radiância derivada do MODIS para comprimento de onda de  645 nanometers, nLw(645), para os verões de  (June–August) of 2003, 2005, 2006, and 2008, respectivamente. (i and j) série temporal 2002-2008 - para  nLw(645)  e Kd 490 nanometers, para a região interna (curva sólida) e externa (curva tracejada) aos diques. Observar como a água no interior dos diques se torna progressivamente mais transparente ao longo do tempo.

Este é mais um exemplo de geo-engenharia, modificação em larga escala da natureza pelo homem, que em poucas décadas (portanto instantaneamente)  vai provocar a transformação de um estuário dominado por marés, para um estuário dominado por ondas e por fim o seu completo preenchimento, uma situação que na nossa costa levou pelo menos 1000-2000 anos após as taxas de subida do nível do mar terem se estabilizado por volta 8000-7000 anos atrás.