Alguns dos organimos que vivem associados às fumarolas. Foto: Stephen Low Productions.
Os depósitos de sulfetos maciços associados a estas fumarolas se formam como resultado de reações químicas associadas ao processo de lixiviação das rochas da cadeia meso-oceânica por água do mar aquecida. Os fluidos gerados, que podem alcançar temperaturas de até 400 graus centígrados, ao emergirem no fundo do mar, encontram água fria que causa a precipitação dos sulfetos metálicos próximo ou sobre a superfície do fundo marinho (ver abaixo).
Depósitos de sulfetos maçicos. Foto: Maurice Tivey e WHOI Deep Submergence Lab
Depósitos de sulfetos maçicos. Foto: Daniel Desbruyères. French ROV Victor 6000 sampling black smokers.
Na realidade muitos dos depósitos de sulfetos maciços explorados em terra tiveram uma origem parecida. É o caso dos depósitos de sulfeto do ofiolito de Troodos, na ilha de Chipre, um fragmento da crosta oceânica, considerado o mais completo e preservado em todo mundo. Esta ocorrência inclui até fósseis de comunidades associadas às fumarolas do Cretáceo superior. A evolução política, cultural, social e histórica da ilha de Chipre está intimamente associada à explotação do cobre, desde os tempos do império romano. A palavra cobre, do latim Cuprum, deriva de cuprium, que significa Cipriota.
Ilha de Chipre
Mina de Skouriotissa - Ilha de Chipe (Fonte: Google Earth).
Retornando ao fundo do mar: os depósitos de sulfetos maçicos marinhos podem alcançar elevadas concentrações de cobre, ouro, prata, zinco, chumbo e ferro, daí o interesse despertado. Existem 03 companhias (Nautilus Minerals, Neptune Minerals e Bluewater Metals Pty) que possuem licenças de exploração em áreas da Zona Econômica Exclusiva (ver este post). A empresa que mais avançou neste sentido foi a Nautilus (já tem até Estudo de Impacto pronto - para acessar use este link)A Nautilus Minerals tem atuado no Mar de Bismarck (em frente à Nova Guiné) e anunciou no inicio de deste mês novas descobertas na região (link). O Mar de Bismarck (uma bacia de back-arc) é particularmente atraente porque as ocorrências estão a menos de 2000m de profundidade e dentro da ZEE da Nova Guiné. Desta foram evitam-se os problemas da exploração em águas sob jurisdição internacional. Estima-se que 1 metro cúbido destes sulfetos na região deve valer em torno de US$2.000,00.
Localização dos prospectos da Nautilus Minerals (Fonte: Nautilus Minerais)
Seção esquemática de Solwara 1, um dos depósitos pesquisados pela Nautilus minerais (para localização veja mapa acima) (Fonte: Nautilus Minerais)
A viabilização da explotação destes sulfetos só se tornou possível devido ao estágio tecnológico atual das indústrias de óleo e gás em águas profundas e da indústria de dragagem em conseqüência do desenvolvimento de grandes projetos como aqueles em Dubai.
Esquema mostrando como será a explotação, no fundo do mar, dos sulfetos maçicos. Fonte: Nautilus Minerals
Assistam a animação abaixo de como será o processo de explotação e vejam como as coisas já estão adiantadas.
Considerando que a crosta oceânica foi gerada ao longo da cadeia meso-oceânica e submetida portanto a processos semelhantes aos descritos acima, alguns bilhões de toneladas de sulfetos estariam presentes nas bacias oceânicas. O esgotamento das jazidas mais facilmente explotáveis no continente, associado ao aumento das restrições ambientais, vai tornar cada vez mais atraente a explotação submarina, que pode até mesmo se tornar mais barata, pois muito da infra-estrutura necessária em área emersas (p. ex. estradas) é dispensável em áreas submersas.
Li em algum lugar outro dia que as profissões necessárias daqui a 10 anos ainda nem começaram a ser ensinadas nas Universidades hoje. É o caso das equipes de profissionais que vão tocar projetos como estes, não só no que diz respeito às atividades de exploração e explotação, mas também todas as atividades relacionadas aos aspectos ambientais, legais e de remediação.
Além disso será que em breve não será necessária a criação de unidades de conservação em algumas destas áreas (p.ex. parques marinhos) para proteger as comunidades das fumarolas? O fato é que o que antes parecia improvável, agora já é quase uma certeza. Começou uma nova corrida do ouro, desta vez no fundo dos oceanos.