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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Geologia e Geofísica Marinha, Arqueologia e Granulados


Doggerland é o nome de uma extensa planície que existiu no mar do Norte, conectando a Inglaterra ao resto da Europa e que foi completamente inundada durante a subida do nivel do mar após o último máximo glacial (aprox. 20.000 anos atrás). 





No início do século passado embarcações de pesca recuperaram em suas redes, restos de animais terrestres,  ferramentas líticas e instrumentos de caça e pesca, datados do Mesolítico. Este termo é utilizado para designar um periodo da pré-história que se inicia por volta de 10.000 anos e se encerra com o aparecimento da agricultura. 



Doggerland foi objeto de uma ambicioso projeto de mapeamento do fundo e sub-fundo marinho denominado de The North Sea Palaeolandscape Project, que cobriu uma área de cerca de 23.000 km2 do assoalho marinho. O projeto foi financiado pelo com recursos do Aggregates Levy Sustainability Fund, criado especificamente para lidar com problemas decorrentes da extração de agregados do fundo marinho (uma taxa  de £1.60 por tonelada é cobrada na venda dos granulados).


Este foi um projeto pioneiro e fascinante, exemplo de uma investigação verdadeiramente interdisciplinar envolvendo arqueólogos, geólogos e geofísicos marinhos e a indústria de extração de agregados. A PGS – Petroleum Geo-Services cedeu uma série de levantamentos de sísmica 3-D realizados na região, dos quais foram extraídos os primeiros milisegundos. Estes dados sísmicos, integrados a dados arqueológicos e geológicos, permitiram reconstruir a paisagem de Doggerland antes de sua inundação pela subida do nível do mar durante o Holoceno, e escolher alvos para trabalhos futuros de prospecção arqueológica.







Cubo sísmico ilustrando relações crono-estratigráficas entre feições Holocênicas e mais antigas



Quem tiver interesse pode fazer o "download" de um arquivo kml e visualizar diretamente no Google Earth, a paisagem reconstruida (use estes dois links:  link1  e  link2).





Eu tive a oportunidade de ler dois livros que resultaram deste projeto. Excelentes relatos de um estudo de caso mostrando a interação entre a Geologia e a Geofísica Marinha, a Arqueologia, a Indústria de Granulados Marinhos e a Indústria do Petróleo:







No Brasil ainda não temos uma indústria de extração de granulados marinhos ativa. A CPRM (Serviço Geológico do Brasil) vem desenvolvendo um projeto de mapeamento de granulados marinhos em algumas áreas selecionadas da plataforma continental brasileira. 
A arqueologia subaquática brasileira (veja o site do CEANS - Centro de Estudos de Arqueologia Náutica e Sub-Aquática) tem se preocupado com a preservação dos sítios de naufrágios na costa brasileira. Porém até onde eu sei não existem projetos em desenvolvimento no Brasil com a abordagem utilizada em Doggerland.


Por volta de 10.000 anos atrás, no início do Holoceno, nossa plataforma continental, principalmente na região nordeste do Brasil, estava completamente exposta (veja figura abaixo). Nesta época o homem já havia chegado à América do Sul. É portanto razoável supor que uma parte do registro arqueológico do nosso homem pre-histórico esteja soterrada nos paleo-estuários que cortavam nossa plataforma naquela época.







Links Relacionados:
BMAPABritish Marine Aggregate Producers Association
MALSF - The Marine Aggregate Levy Sustainability Fund
Seabed Prehistory Project - Wessex Archaeology



Um comentário:

  1. Landim

    Muito interessante o seu post. O meu pos-doc na Inglaterra foi junto ao pessoal da Wessex Archaeology. Na época estávamos trabalhando com a comparação de fontes tipo chirp e boomer para determinação de horizontes arqueológicos submersos em áreas do English Channel. Minha bolsa vinha deste Levy Fund e da British National Heritage. Essa é uma área que está aberta aqui no Brasil.

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