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sábado, 24 de outubro de 2009

Cordões Litorâneos - "Anéis de Crescimento das Planícies Costeiras"

No Brasil, o abaixamento do nível relativo do mar de cerca de 3-4 metros nos últimos 5.700 anos, favoreceu a progradação da linha de costa, originando extensas planícies de cordões litorâneos. Uma destas planícies é a de Belmonte situada no sul do Estado da Bahia, que faz parte do Delta Dominado ou Modificado por Ondas do Rio Jequitinhonha. Charles F. Hartt quando esteve no Brasil no século 19, assim descreveu está planície: "The plain consists of a large number of parallel beaches, one lying in front of the other, sometimes united, at others separated by miniature valleys, occasionally  only a few feet in width, but often continuous for a considerable distance. Many of these beaches have their slopes almost as perfect as if it were but yesterday that they were swept by the waves. In the depressions water accumulates, sometimes forming shallow lagoons" (HARTT, C.F. 1870, Geology and Physical Geography of Brazil. Fields, Osgood & Co. Boston, USA, 620p).

Eu sempre tive uma ligação muito forte com está região, pois foi lá que desenvolvi o meu primeiro trabalho de pesquisa (Dissertação de Mestrado). Em 1982, ainda durante a realização do meu mestrado eu publiquei um roteiro de excursão geológica à planície de Belmonte (DOMINGUEZ et al. 1982. Roteiro de excursão geológica à planície costeira do rio Jequitinhonha (BA) e às turfeiras associadas. XXXII Congresso Brasileiro de Geologia, Salvador, Bahia: 199-235. Use este link para download). Este roteiro apresenta alguns dos mecanismos de formação dos cordões litorâneos. Três tipos básicos podem ser reconhecidos:






Este é um exemplo de cordões litorâneos formados pela emersão e estabilização de bancos arenosos na porção baixa da praia/zona de surfe, principalmente em regiões vizinhas à desembocaduras fluviais e canais de maré 



Este é um exemplo de cordões litorâneos que resultaram dos efeitos de uma sobre-elevação do nível do mar durante tempestades ou marés de sizígia, quando as ondas lançam areias no pós-praia, em alturas não alcançadas pelas ondas em condições normais 


E finalmente este é um exemplo de cordões litorâneos que resultaram da contribuição de areias retiradas da face da praia pela ação do vento e depositadas no pós-praia ao encontrar a vegetação pioneira. Este tipo de cordão litorâneo tem sua origem portanto como uma duna frontal. 


As zonas entre os cordões litorâneos denominadas de regiões intercordão, normalmente por serem mais baixas, coletam mais água na estação chuvosa quando o terreno fica então mais encharcado. Isto tende a ocorrer principalmente naqueles trechos onde o cordão litorâneo teve como origem a estabilização de bancos arenosos,  o que faz com que a região intercordão seja originalmente mais baixa.

Todos os cordões litorâneos de uma maneira ou de outra são afetados pelo retrabalhamento eólico, que alcança sua maior expressão, naqueles cordões que  tiveram sua origem como dunas frontais.



O estudo da geometria, orientação e padrões de truncamento dos cordões litorâneos pode fornecer uma grande quantidade de informações, sobre a evolução destas planícies, os padrões de dispersão de sedimentos e os episódios pretéritos de erosão severa que afetaram a linha de costa. Estas feições representam portanto "anéis de crescimento" destas planícies, constituindo um registro da história evolutiva das mesmas.





3 comentários:

  1. Estou na expectativa dos próximos temas. Será que vem por aí as discussões sobre "delta" ou "não delta"?

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  2. Vale a pena conferir o roteiro de excursão, iniciando de barco pelo porto de Canavieiras sentido Belmonte, navegando pelos canais de maré, entre belíssimos manguezais. Como a região ainda é pouco ocupada é possivel observar de perto os cordões litorâneos que aindam se encontram preservados na parte sul da planície(como é mostrado nas fotos acima).
    Adorei a postagem, além de ser minha área de trabalho do mestrado é o local onde passo minhas férias.

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