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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Areias Congeladas pela Frialdade da Água do Mar



Rochas de Praia ou "Beach Rocks" são o resultado da cimentação rápida de sedimentos praiais por carbonato de cálcio. Esta cimentação é normalmente superficial e se estende até um máximo de 3-4m.  Uma rápida busca na literatura mostra que a quase totalidade dos trabalhos publicados consideram que a cimentação ocorre na zona intermarés, como resultado de um destes processos: (i) supersaturação de carbonato de cálcio através da evaporação direta da água do mar, (ii) CO2 “degassing” de águas do freático na zona vadosa, (iii) mistura do águas do freático marinho com águas meteóricas e (iv) precipitação de micrita como um sub-produto da atividade microbiana.

O fato é que já em 1587, Gabriel Soares de Souza, assim descreveu a origem destas feições:  “... mas depois se descobriu outra pedreira melhor, que se arranca dos arrecifes que se cobrem com a preamar da maré de águas vivas ao longo do mar, a qual pedra é alva e dura, que o tempo nunca gasta....  e acham-se muitas vezes no âmago destas pedras cascas de ostras e de outro marisco, e uns seixinhos de areia, pelo que se tem que esta pedra se formou de areia e que se congelou com a frialdade da água do mar.....”.  Ou seja rochas de praia são areias congeladas pela frialdade da água do mar.

Numa recente revisão sobre o assunto Vousdoukas e colaboradores (2007), afirmou que o Brasil, junto com a Grecia e Austrália é um dos estados costeiros com o maior número de ocorrências de rochas de praia (veja figura abaixo). De fato na região nordeste do Brasil se encontram exemplos espetaculares de rochas de praias. Estes autores até mesmo apresentam uma pequena foto de uma rocha de praia em Salvador, Bahia. Fica entretando dificil saber onde foi tirada esta foto.



"Hot Spots" de ocorrências de rochas de praia (Vousdoukas e colaboradores, 2007)



Entretanto, ao ler este e outros trabalhos a impressão que se tem é que  os mesmos enfatizam aquelas rochas de praia que se formaram na face da praia, enquanto nós temos vários exemplos de rochas de praia que apresentam estruturas sedimentares (estratificações cruzadas) indicativas de uma deposição na zona de surfe.








Muito poucos trabalhos foram realizados sobre as rochas de praia no Brasil. Alguns estudaram o processo diagenético de cimentação (veja por exemplo o trabalho recente de Vieira e de Ros - 2006), outros utilizaram estas estruturas para a reconstrução de paleo-niveis marinhos ou no estudo de fenômenos neotectônicos. A revisão de Vousdoukas e colaboradores (2007) cita apenas 04 trabalhos publicados sobre as rochas de praia no Brasil.

É interessante notar que apesar de ser uma presença tão marcante no litoral estas feições tenham recebido tão pouca atenção dos pesquisadores nacionais.  Lembro que no congresso internacional da IAS (International Association of Sedimentologists), realizado em Recife, Pernambuco, no ano de 1994, o Prof. Robert Ginsburg, mostrou-se muito entusiasmado e impressionado com as rochas de praia em Pernambuco, e também questionava porque ninguem tinha interesse em estudá-las.

A comunidade nacional que atua na zona costeira está devendo portanto um trabalho de síntese sobre as nossas rochas praia, principalmente no que diz respeito ao ambiente deposicional destas feições, especialmente aquelas mais antigas, formadas sob condição de nível de mar mais alto que o atual, como as que ilustram está postagem. 

Um comentário:

  1. Esse blog é muito interessante, abrangente e atual! Estou acessando quase que diariamente para ver as novidades. E sempre tem novidades...
    Se estou certa, o prof. Landim tem um artigo sobre o tema em questão, propondo uma nova denominação -bancos de arenito. Seria interessante se esse texto estivesse disponível no blog para consulta.

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