Com o tsumani ocorrido nas Ilhas Samoa, no dia 29/09/09, o tema vai certamente voltar à cena.
O tsunami que afetou a Sumatra em 26/12/2004,
despertou uma intensa excitação sobre o tema, com a realização de simpósios,
“workshops” e publicação de números
especiais em periódicos acadêmicos sobre o tema, principalmente sobre o
registro estratigráfico e sedimentológico destes eventos de alta energia. Um
pequeno exemplo é este número especial do periódico “Sedimentary Geology – Sedimentary Features of Tsunami Deposits – Their Origin, Recognition and Discrimination: An Introduction”
Isto me fez
lembrar meus anos de doutorado, mais de vinte anos atrás, quando constantemente discutiamos sobre o caráter episódico da sedimentação. Uma referência
obrigatória na época era o pequeno e clássico livro de Derek Ager (The Nature
of the Stratigraphic Record) com sua famosa sentença: “... the history of any
part of the Earth, like the life of a soldier, consists of long periods of
boredom and short periods of terror" (p. 141) ( “…a história de qualquer
parte da Terra, como a vida de um soldado, consiste de longos periodos de tédio
e breves periodos de terror”). Nada mais preciso para descrever não apenas o
terror humano frente ao fenômeno geológico, como também aquele “experimentado”
pelos demais organismos vivos.
Entretanto,
o que chama mais atenção nestes fenômenos é a resiliência do ambiente natural.
Poucos meses após o tsunami da Sumatra, a zona costeira já havia se recuperado
como mostra o interessante artigo “Coastal Recovery following the destructive
tsunami of 2004: Aceh, Sumatra, Indonesia” de S. C. Liew, A. Gupta, P. P.
Wong, L. K. Kwoh, no periódico “The Sedimentary Record” (download
livre - link).
As fotos que ilustram o artigo mostram as mudanças dramáticas que ocorreram na zona costeira. As "feridas" rapidamente cicatrizaram, sob a
forma de uma mudança na orientação da linha de costa, um truncamento em um
canal de maré etc..
Quem trabalha na zona costeira certamente já ficou
intrigado com este tipo de feição, digo, estes truncamentos. Sempre tentamos explicar estas feições como
resultado acumulativo dos processos diários. Veja por exemplo a imagem abaixo da planície de Caravelas - sul da Bahia.
Quem sabe se alguns destes truncamentos não representam o registro de um
destes breves periodos de terror, destes verdadeiros pesadelos geológicos, esperando para ser descobertos?