Bacoccoli publicou em 1971, um pequeno trabalho no Boletim Técnico da Petrobrás, com uma tentativa de classificação dos deltas brasileiros (veja figura abaixo). Neste trabalho o autor identificou uma serie de deltas na costa do Brasil que classificou como deltas altamente destrutivos ou dominados por ondas.
Os Deltas quaternários da costa brasileira segundo Bacoccoli (1971)
Posteriormente, com a vinda para o Brasil do prof. Louis Martin, da ORSTOM (agora IRD), se iniciou um programa de mapeamento sistemático dos depósitos quaternários marinhos brasileiros, que incluiu pesquisadores da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. Este programa resultou na identificação de dois conjuntos de terraços arenosos associados aos niveis de mar alto de 120.000 anos (MIS 5e) e atual. Pela primeira vez foi reconhecida a existência de testemunhos de um nivel de mar alto pleistocênico na costa do Brasil (veja fotos abaixo).
Ainda como conseqüência deste programa de mapeamento foram construídas uma série de curvas de variação do nivel relativo do mar, que mostraram a existência de um nivel de mar alto Holocênico, por volta de 5.100 anos AP. Este abaixamento do nível relativo do mar, aparentemente favoreceu a progradação da linha de costa nestes últimos 5.000 anos, dando origem a várias planícies quaternárias localizadas afastadas de desembocaduras fluviais importantes. A principal diferença entre estas planícies quaternárias e os deltas identificados por Bacoccoli era a associação destes últimos com importantes cursos fluviais. Não demorou muito para se misturar as duas coisas. Veja abaixo um trecho extraido das conclusões de uma publicação de Martin, Suguio & Flexor (1993) sobre os “deltas” brasileiros (para download do trabalho completo use este link).
Este “mantra” foi repetido inúmeras vezes, inclusive por mim, que me recusava a aceitar estas áreas como constituindo típicos deltas. Acho que nossa maior falha foi desprezar os principios básicos da estratigrafia (as variáveis de Sloss como se costuma dizer - suprimento de sedimentos é uma delas). O abaixamento do nível do mar não “gera” sedimento novo. Sedimentos siliciclásticos são trazidos essencialmente pelos rios. De fato se olharmos a figura abaixo, vê-se claramente que as grandes planícies quaternárias da costa leste estão associadas às desembocaduras dos principais rios, entre estes deltas a costa é “faminta”, com as unidades geológicas mais antigas, chegando até a linha de costa e formando falésias vivas.
As áreas em azul são as mais baixas e correspondem aos deltas (exceção Caravelas). Observar que entre um delta e outro, quase não houve progradação da linha de costa, apesar do nivel relativo do mar ter descido nos últimos 5.000 anos.
Adicionalmente as primeiras sondagens profundas (até 40m) que estamos realizando em algumas destas áreas mostram que estas acumulações são deltas clássicos. Existe ainda muito a ser feito para compreender a dinâmica destas áreas no detalhe.
A sensação que se tem é que naquela ocasião estavamos estudando estas acumulações, mais ou menos da mesma maneira como se estudam os deltas de Marte atualmente, à distância, apenas com fotos e imagens. Vejam o exemplo dos sistemas deltáicos na cratera Holden NE (Eberswalde), que tem gerado igualmente controvérsias se são deltas ou simplesmente feições erosivas, se são deltas típicos ou leques deltáicos. Referência básica: Malin & Edgett (2003) - Evidence for Persistent Flow and Aqueous Sedimentation on Early Mars. Science: 302(5652):1931-1934. Para uma palestra da Dra. Leslie Wood sobre o assunto use este link. Para uma opinião alternativa veja o trabalho de Pondrelli e colaboradores neste outro link.
A sensação que se tem é que naquela ocasião estavamos estudando estas acumulações, mais ou menos da mesma maneira como se estudam os deltas de Marte atualmente, à distância, apenas com fotos e imagens. Vejam o exemplo dos sistemas deltáicos na cratera Holden NE (Eberswalde), que tem gerado igualmente controvérsias se são deltas ou simplesmente feições erosivas, se são deltas típicos ou leques deltáicos. Referência básica: Malin & Edgett (2003) - Evidence for Persistent Flow and Aqueous Sedimentation on Early Mars. Science: 302(5652):1931-1934. Para uma palestra da Dra. Leslie Wood sobre o assunto use este link. Para uma opinião alternativa veja o trabalho de Pondrelli e colaboradores neste outro link.