Concepção artística do Impacto entre Theia e a Terra (Nasa/JPL)
Durante o impacto o nucleo metálico de Theia penetrou nosso planeta e se juntou ao nucleo terrestre pre-existente. Isto tudo tem mais a ver com a Geologia Marinha do que à primeira vista poderiamos imaginar.
Modelo de Formação da Lua (The Big Splat). Fonte: The planet that stalked the Earth New Scientist vol 183 issue 2460 - 14 August 2004, page 26
Joseph L. Spradley lista algumas das principais implicações desta colisão, principalmente nos aspectos relacionados a origem da vida (link)
1. O impacto removeu uma grande quantidade de gases estufa: uma atmosfera mais fina favorece a fotossintese. Em Venus a pressão atmosférica é 90 vezes maior que na Terra e 96% da atmosfera é CO2. Temperatura na superfície 460 graus centígrados.
2. A colisão aumentou a velocidade de rotação da terra para 6 horas e inclinou o eixo de rotação favorecendo uma faixa de temperatura ideal (Em Mercurio a velocidade de rotação é 59 dias, em Venus é 243 dias).
3. A colisão resultou em um núcleo maior o que associado a uma velocidade de rotação maior resultou em um campo magnético mais forte, que deflete o vento solar preservando a atmosfera e protegendo a vida. Marte por exemplo no passado já teve um campo magnético forte, que desapareceu devido ao resfriamento de seu núcleo.
4. A contribuição do nucleo metálico de Theia que foi incorporado ao da Terra, resultou em um campo gravitacional mais forte que ajudou a reter o vapor d'água que depois se condensou e formou os oceanos. Em Marte a ausencia de um campo magnético associado a um campo gravitacional mais fraco resultou em perda da atmosfera muito cedo.
5. A queda de minerais siderofilos de volta à Terra após o impacto, explica o porque o manto da Terra é relativamente enriquecido em metais em comparação por exemplo com a Lua. A presença destes minerais siderofilos no manto, posteriormente reciclados e concentrados na crosta pela tectônica de placas é importante não apenas para a vida no planeta como também permitiram que uma civilização tecnológica aparecesse na Terra.
Formação Ferrifera Bandada - nosso principal minério de ferro. Sem Theia estas concentrações de metais não se formariam na crosta terrestre (Imagem: wikipedia)
6. A Tectonica de Placas, exclusiva da Terra, é facilitada pela presença de uma crosta mais fina e de água que diminui o ponto de fusão dos sillicatos no manto. Sem tectônica de placas e o controle que ela exerce no ciclo do carbono e na formação dos continentes e reciclagem das rochas, seriamos hoje um planeta "morto".
Para baixar o artigo, use o link
Fonte: Scrutton, CT. Periodicity in Devonian Coral Growth - Paleontology, vol 7, Part 4, 1964, pp552-8
8. Finalmente a presença da Lua estabilizou a inclinação do eixo de rotação da Terra dando mais estabilidade às estações. Em Marte por exemplo a inclinação do eixo de rotação pode variar entre 10 e 50 graus num intervalo de tempo de 100 milhões (ou 15 a 35 graus num periodo de 125.000 anos) devido a ausencia de uma Lua suficientemente grande para estabiliza-lo. Em comparação o angulo de inclinação da Terra varia entre 22,1 e 24,5 graus em um intervalo de tempo de 41.000 anos.
Se não fosse a Lua, a Terra seria um planeta muito diferente e muito mais instavel climáticamente.
Deste modo, assim como os demais fenômenos geológicos, onde a herança geológica exerce um forte controle, a origem do nosso planeta é fruto também de uma contingência histórica e do acaso. Não é portanto possível entender a origem da vida e de processos geológicos como a tectônica de placas e outros aspectos singulares ao nosso planeta, sem contextualizar e sem entender como a própria história de formação da Terra contingenciou a sua evolução futura.
Muito interessante!!
ResponderExcluirGostei muito, pena que os artigos relacionados com os assuntos sejam em inglês.