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domingo, 22 de agosto de 2010

O Ponto de Cachoeira - Cataratas do Iguaçu

Ponto de Cachoeira ou "knickpoint" é definido como uma região ao longo do perfil longitudinal de um rio, caracterizada por uma acentuada declividade. De um modo geral um ponto de cachoeira se origina como consequencia de algum evento a jusante de um rio, e se propaga a montante, comunicando um sinal de erosão através  da rede fluvial constituída pelo canal principal e seus tributários. Uma queda do nível de base é uma dos principais processos que conduzem à formação de um "ponto de cachoeira". Este é um conceito importante na estratigrafia de sequências, pois a propagação à montante do "ponto de cachoeira", é o que termina originando os vales incisos, principalmente quando o nível do mar cai abaixo da quebra da plataforma.

As cataratas do Iguaçu são  um exemplo de "ponto de cachoeira". Um dos principais pontos turísticos do Brasil que eu tive a oportunidade de visitar por ocasião do encontro da AGU (American Geophysical Union) onde apresentei um trabalho relacionado sobre o tema.

Cataratas do Iguaçu - lado brasileiro

Fiz uma pequena busca na internet para tentar descobrir a sua origem sem sucesso. Os portais turísticos mencionam que as cataratas tem cerca de 150 milhões de anos. Na realidade esta é a idade dos basaltos da bacia do Paraná. Até mesmo o trabalho de Salamuni et al (2002) que descreve o Sitio Geológico e Paleontológico do Brasil 011 (O Parque Nacional do Iguaçu) (Link) não faz qualquer menção à origem da cachoeira.
Cataratas do Iguaçu - reparem como o rio Iguaçu é anormalmente largo em comparação com as cataratas.
Vista aérea das cataratas do Iguaçu (Foto de Zig Kock). Observem como o rio Iguaçu é encaixado a jusante das cataratas.
Vista aérea das cataratas do Iguaçu (Foto de Zig Kock). Ao fundo o Rio Iguaçu.
Este DEM (Digital Elevation Model) da região mostra o rio Iguaçu descrevendo amplos meandros, as cataratas e o lago de Itaipu no rio Paraná. Observem que o rio Paraná a jusante da barragem é muito estreito e encaixado, o mesmo acontecendo como o rio Iguaçu a jusante das cataratas. 

 Vista do rio Paraná à jusante da represa de Itaipú. Observar como o rio é encaixado.
 Represa de Itaipú

Como o rio Paraná desagua no rio da Prata, é provavel que o recuo do ponto de cachoeira no rio Iguaçu, seja resultado de algum processo de queda do nivel de base desde o Mioceno médio no rio da Prata. Se alguém souber de algum trabalho que detalhe esta história mande a referência.

sábado, 14 de agosto de 2010

A Importância da Tectônica de Placas para a Vida na Terra - Parte 1


Quando fiz minha graduação em geologia no início da década de 70, a Tectônica de Placas ainda não havia sido incorporada nos curriculos escolares. Desta forma acabei aprendendo a Teoria do Geossinclinal, um conceito que mesmo aquela época já estava obsoleto. O que me salvou foi eu ter comprado naquela época uma coletânia da Scientific American sobre Tectônica de Placas. Me rendeu uma nota dez na prova de geotectônica.
 
Geossinclinal Apalachiano - América do Norte. Fonte: http://www.uwgb.edu/dutchs/platetec/geosync.htm

 Tectônica de Placas (Fonte: USGS)

Tectônica de Placas é nos dias de hoje um tópico banal que a todo momento aparece nos documentários e reportagens sobre vulcões, terremotos e outros desastres naturais. É como se fosse a fonte de todas as misérias humanas. O que a maioria de nós talvez não se dê conta é que a Tectônica de Placas é fundamental para a vida na Terra. Sem tectônica de placas os níveis de oxigênio no planeta jamais teriam alcançado os teores atuais de 21%. 


Quando as cianobactérias começaram a realizar  fotossintese oxigênica, geraram como sub-produto oxigênio livre.  Para que os níveis de oxigênio pudessem crescer na atmosfera foi necessário, ao longo do tempo, sequestrar a matéria orgânica produzida, de outro modo a oxidação desta matéria orgânica consumiria o oxigênio gerado. 

 Estromatólitos  Neo-Proterozóicos construídos por cianobactérias - Fazenda Arrecife - Chapada Diamantina - Bahia (Fonte: http://vsites.unb.br/ig/sigep/sitio061/sitio061english.htm)

A maneira mais eficiente de sequestrar matéria orgânica é enterra-la junto com os sedimentos nas bacias sedimentares e estas são o resultado direto da movimentacão das placas. Durante a fragmentação dos continentes, bacias marginais são geradas nas quais se acumulam espessuras de vários quilometros de sedimentos. Quando estas bacias são depois envolvidas em colisão de placas estes sedimentos são  anexados aos continentes nas cadeias de montanhas. 

Estima-se que existam 10.000.000 de Gt (Gigatoneladas) de Carbono Orgânico armazenado em rochas sedimentares em todo o planeta e pelo menos 4.700 Gt de Carbono Orgânico armazenado sob a forma de combustíveis fósseis.  A retirada desta matéria orgânica do sistema é que permitiu  o oxigênio alcançar niveis suficientemente elevados na atmosfera para o aparecimento de vida animal na Terra.

Espessura Global de Sedimentos - G. Laske and G. Masters, A Global Digital Map of Sediment Thickness, EOS Trans. AGU, 78, F483, 1997.

A Terra vista do espaço profundo. O famoso "Pale Blue Dot" de Carl Sagan (Fonte: http://www.jpl.nasa.gov/news/features.cfm?feature=1223)

A Terra é  único planeta do sistema solar onde existe  tectônica de placas. Um planeta sem tectônica de placas, está fadado a desenvolver no máximo formas de vida microbianas.